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Sargento que morreu afogado é sepultado em Santa Maria


Vorlei da Silva, 48 anos, estava desaparecido desde o dia 1º, na Lagoa Tarumã, em Cacequi

Não entendo como esse homem morreu afogado. Quando a gente ainda era uns tocos de gente, atravessava o açude da Doralina a nado”. Com essas palavras, Delasir da Silva, 42 anos, irmão do sargento Vorlei da Silva, 48, tentava buscar explicações para a morte daquele que lhe ensinou a nadar no interior da cidade de Campo Novo, onde ambos cresceram.

Ontem, no enterro do militar, no cemitério Santa Rita, em Santa Maria, a incredulidade e a dor ocuparam o lugar da esperança que se esvaiu ao longo de 10 dias de buscas. Vorlei estava desaparecido nas águas da Lagoa Tarumã, na área militar de Saicã, em Cacequi, desde 1º de agosto, quando virou o barco em que pescava com outros dois colegas – o capitão Jair Mário Cardoso, que conseguiu se salvar, e o soldado Luiz Enehy Souza da Silva, que foi encontrado morto na última terça-feira (leia no quadro ao lado).
Na manhã de ontem, a equipe de resgate avistou o corpo de Vorlei boiando na lagoa. Ele foi retirado da água por volta das 8h30min. O velório, nas capelas do cemitério, começou à tarde. Entre muitas fardas, as bombachas e os lenços também se faziam presentes no adeus a um tradicionalista de coração. Vorlei já somava 5.204 quilômetros percorridos em cavalgadas. O número foi contabilizado pela Ordem dos Cavaleiros Riograndense, da qual fazia parte. Na quinta-feira, dois dias antes de desaparecer, ele ainda planejava a participação em uma cavalgada que começa nesta sexta-feira. Ele não estará de corpo presente, mas o evento, agora, levará seu nome: Cavalgada da Chama Crioula Vorlei da Silva.
– Vamos buscar a chama em Itaqui, e será uma homenagem a ele. O Vorlei era um grande parceiro que gostava muito de um churrasco e de todas as lidas gaúchas – lembra o conselheiro do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Erival Bertolini.
O tenente-coronel aviador Eduardo Ruppenthal, comandante da Base Aérea de Santa Maria (Basm), esclarece que a embarcação em que estavam os militares não era da unidade e que há uma recomendação para que militares não pesquem na lagoa de Saicã.
– O Vorlei era um colega muito participativo. Sempre que havia uma festividade, ele estava presente – lamentou o comandante.
Lembranças – Atualmente, o sargento trabalhava no Esquadrão de Material Bélico da Basm, onde completaria 30 anos de serviço em janeiro. Em Saicã, ele estava participando de uma reforma nas instalações da área militar. No dia do acidente, ele terminou a pintura de uma torre de controle de voo. De acordo com o comandante, o capitão que sobreviveu ao acidente contou que acredita que a correnteza do Rio Cacequi – que passa pela lagoa – tenha feito o barco virar. O capitão disse ainda que viu os colegas nadarem, um para cada lado. Mas a água estaria muito gelada, o que, segundo o capitão, pode ter levado os militares, que sabiam nadar, à morte. Após sair da água, o militar disse não ter visto mais Vorlei e Luiz.
Amigo de Vorlei, o sargento Ildo Wagner lembra que ele fundou o Clube Cascasta e o CTG Quero-Quero.
– Almoçávamos juntos todos os dias. Era um cara que gostava muito de ajudar as pessoas – lembra.
O caixão, coberto pelas bandeiras do Brasil, do Rio Grande do Sul e da 13ª Região Tradicionalista, foi carregado pelos companheiros de cavalgadas. Oito homens da Basm, sob o comando do sargento Wagner, fizeram uma salva de três tiros com bala de festim no cemitério, pouco antes de o corpo ser sepultado.
O adeus – Nascido em Ajuricaba, Vorlei era casado com Sandra e tinha um filho de 11 anos, Nicolas. Ele tinha quatro irmãos e duas irmãs. Era filho de Laudelina e Adolpho da Silva.
Um toque de silêncio no enterro abafou a despedida de dona Laudelina que, ao jogar pétalas de rosas sobre o caixão, fez a última recomendação:
– Vai com Deus, meu filho!

FONTE: DIÁRIO DE SANTA MARIA
FOTO: JEAN PIMENTEL

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